domingo, 8 de abril de 2012

Pessoíssimas, desesperados com os livros da Fuvest, atenção!

Essa semana começa um evento promovido pela Prefeitura de SP chamado "A hora e a vez do vestibular", que consiste num ciclo de leituras e análises dos livros constantes na lista obrigatória da Fuvest / Unicamp 2013. Basicamente, professores estarão presentes em algumas bibliotecas municipais, em diversos dias e horários, ao longo de nove semanas, para falar sobre esses livros, sendo um por semana, durante duas horas cada, sempre no mesmo dia e horário. E gratuito! Continuo fazendo parte do projeto e estarei nesse semestre em duas bibliotecas, uma em Pinheiros e outra no Ipiranga. Quer puder me prestigiar lá, já agradeço antecipadamente. Caso seja muito longe, procure outra que também tenha, veja direitinho o dia e o horário, pois são diferentes de uma biblioteca pra outra, e vão conferir, pois tenho certeza de que vão encontrar professores fora-de-série, alguns inclusive colegas meus, como o Fernando Lara e o André Renato, feras!
Enfim, segue abaixo o link da secretaria de cultura para maiores informações, abraço!

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/noticias/?p=10274

sábado, 7 de abril de 2012

Os perigos da filosofia


E como estavam ali há tanto tempo juntos, aqueles quatro moços e o professor, um pouco mais velho, este propôs-lhes uma lição, um teste filosófico: "Meus amigos, companheiros, meus, por assim dizer, discípulos. Estamos aqui, neste aposento praticamente vazio.
Pois bem, digamos que cada um de vocês tivesse que encher esse espaço. Qual seria a maneira mais rápida e mais útil de encher este quarto? Responda você primeiro, José". E José, o mais velho dos moços, respondeu: "Eu encheria de palha. Seria uma maneira muito rápida de encher o quarto, porque a palha é leve e fácil de transportar e extremamente útil, pois com ela se poderiam tecer cestas e sobre elas se poderia descansar melhor.
O professor esclareceu: "Você deu resposta brilhante, rápida e válida, e parece que quem errou fui eu. Embora a palha seja realmente uma coisa extremamente útil, eu preferia que a sugestão ficasse clara: é encher o quarto compacta, totalmente. Você agora, Mário". Mário, o mais magro de todos respondeu: "Eu encheria tudo de areia. Também é fácil de transportar e o quarto ficaria cheio. Poderíamos deitar sobre a areia, uma vez seca, ou usá-la como defesa, nos olhos de alguém que nos atacasse". "Muito bem", aceitou o professor mais velho. "Mas não haverá idéia que resolva melhor a proposta do teste, Eusebio? Eusebio, o barbado, que já tinha tido tempo de pensar, disse: "Acho que sim. Eu encheria o aposento com água. Aí ele estaria cheio, completamente mesmo, não se poderia encher o quarto mais rapidamente, pois bastaria deixar a bica do banheiro aberta algum tempo. Além disso, todos sabem, existe coisa mais útil que a água?" "Você ganhou, realmente, na rapidez e na utilidade, Eusebio ", disse o professor, "Mas se esqueceu de um ponto negativo - morreríamos todos afogados. Que diz você, Ivan? E Ivan, o mais dotado de todos, respondeu docemente: "Da maneira mais simples, mais rápida, da única maneira verdadeiramente útil porque se poderia aproveitar o espaço". Dirigiu-se até a parede, girou o comutador e o aposento encheu-se de luz. "Admirável! Correto! Perfeito!" disse o professor. "Realmente ninguém pode viver sem luz, a luz é que alimenta o mundo, a luz é que torna possível a saúde e a reprodução da espécie. Sem falar na simbologia, pois a luz representa o que há de mais..." Porém, antes que ele acabasse de falar, a polícia que estava vigiando o edifício há vários dias, vendo que havia luz na janela, invadiu o 'aparelho' e prendeu todo mundo.
MORAL: QUEM ESTÁ NA MERDA NÃO FILOSOFA.
SUBMORAL: DA DISCUSSÃO NASCE A LUZ. E DA LUZ?


Millôr Fernandes


(http://www2.uol.com.br/millor/fabulas/005.htm)

A verdade


Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
– Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:
– Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
– Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo, e a deixou desfalecida – gritaram os aldeões. – Matem-no!
– Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela quem me deu!
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo: "Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor." E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira! Impura! Diaba!" e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
– A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
– A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.

Luis Fernando Verissimo

(As mentiras que os homens contam. Editora Objetiva)

Alturas De Machu Picchu (Poema XII) - Pablo Neruda


A través de la tierra juntad todos
los silenciosos labios derramados
y desde el fondo habladme toda esta larga noche
como si yo estuviera con vosotros anclado,
contadme todo, cadena a cadena,
eslabón a eslabón, y paso a paso,
afilad los cuchillos que guardasteis,
ponedlos en mi pecho y en mi mano,
como un río de rayos amarillos,
como un río de tigres enterrados,
y dejadme llorar, horas, días, años,
edades ciegas, siglos estelares.

Tradução

Na vastidão da terra juntai todos
os silenciosos lábios derramados
e do fundo falai-me toda esta longa noite
como se eu estivesse ancorado convosco,
contai-me tudo, cadeia a cadeia,
contai elo por  elo, e passo a passo,
afiai os facões que conservastes,
ponde-os em meu peito e em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,
e deixai-me chorar, horas, dias, anos,
idades cegas, séc'los estelares.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Perguntas de um trabalhador que lê


Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

Bertolt Brecht
(Poemas 1913-1956. Seleção e tradução de Paulo César de Souza. Editora 34)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Lista Unificada de Livros para o Vestibular 2013

O conselho de graduação (CoG) da USP, em reunião realizada no dia 15/12/2011, aprovou a lista de obras de leitura obrigatória para a Fuvest 2013. Houve alteração em relação ao vestibular passado.

  • Viagens na minha terra - Almeida Garrett;
  • Til - José de Alencar;
  • Memórias de um sargento de milícias - Manuel Antônio de Almeida;
  • Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis;
  • O cortiço - Aluísio Azevedo;
  • A cidade e as serras - Eça de Queirós;
  • Vidas secas - Graciliano Ramos;
  • Capitães da areia - Jorge Amado;
  • Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade.

(*) Os três últimos livros permanecem sob direitos autorais e por isso não estão disponíveis aqui para baixar.